Feliz - e único feliz - é quem pode dizer que o Hoje lhe pertence. Quem confiante, pode dizer, Ó amanhã, podes ser negro, pois vivi o dia de Hoje.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Iconografia de Jesus Cristo

Figura 13 - Cristo na Glória
Figura 12 - Paternitas


Figura 11 - O Pantacrator

Figura 10 - elementos básicos

Figura 9 - Meio Pentecostes

Figura 8 - Festa do encontro

Figura 7 - Anunciação de Ustyug

Figura 6 - o Emanuel com a virgem

Figura 5

Figura 4

Figura 3

Figura 2

Figura 1

Tradicionalmente os ícones de Cristo são classificados em três tipos básicos: A aqueropita ou “A Imagem não feita por mãos humanas”, o Emanuel e o Pantocrator ou o Senhor Todo Poderoso.

A Imagem Não Feita por Mãos Humanas ou Aqueropita


A versão mais popular no ocidente conta que durante a via sacra Verônica secou o rosto do Cristo, que estava com sangue e suor. A marca deixada no pano teria dado origem ao santo sudário. Note-se que o nome Verônica significa vera = verdadeira + icona = imagem.

A tradição oriental diz que o primeiro ícone foi o rosto de Jesus Cristo sobre um pano. Por volta do ano 30 o Rei Abgar V, de Edessa (atual Urfa, na Turquia), que era leproso, ouvindo falar sobre os poderes de cura de Jesus, mandou um mensageiro, Ananias, à Palestina. Sua missão era entregar uma carta a Jesus, pedindo-lhe que fosse curá-lo e fazer seu retrato, o mais fiel possível, para o rei. A carta dizia:



“Abgar, toparca da cidade de Edessa, a Jesus Cristo, o excelente médico que surgiu em Jerusalém, salve! Ouvi falar de ti e das curas que realizas sem remédios. Contam efetivamente que fazes os cegos ver, os coxos andar, que purificas os leprosos, expulsas os demônios e os espíritos imundos, curas os oprimidos por longas doenças e ressuscitas os mortos. Tendo ouvido falar de ti tudo isso, veio-me a convicção de duas coisas: ou que és Filho daquele Deus que realiza estas coisas, ou que és o próprio Deus. Por isso escrevi-te pedindo que venhas a mim e me cures da doença que me aflige e venhas morar junto a mim. Com efeito, ouvi dizer que os judeus murmuram contra ti e te querem fazer mal. Minha cidade é muito pequena, é verdade, mas honrada e bastará aos dois para nela vivermos em paz.” (Gharib, p. 43)



Ananias chegou a Jerusalém na vigília da Paixão e entregou a carta a Jesus. Enquanto esperava a resposta, tentou em vão fazer seu retrato. Adivinhando seu embaraço, Jesus pediu água para lavar o rosto e uma toalha. Pressionou a toalha sobre sua face e miraculosamente imprimiu sua imagem nela. Entregou a toalha a Ananias, com uma resposta da carta e prometendo que mais tarde um de seus discípulos iria até o rei. Essa seria a origem do mandylion (lenço, manto), imagem aqueropita (não feita pela mão humana) que se considera como o primeiro ícone. A resposta de Jesus à carta do rei dizia:



“Bem-aventurado és, Abgar, porque acreditaste em mim, embora não me tenhas visto! De mim, com efeito, está escrito que quem me vir, não crerá em mim, para que os que não me vêem creiam em mim e tenham a vida. Quanto ao convite que me fizestes para ir ter contigo, respondo que é preciso que eu cumpra aqui a minha missão, e que depois do seu cumprimento, que eu volte para aquele que me mandou. Mas quando eu tiver subido para junto dele, te mandarei um dos meus discípulos, de nome Tadeu, para curar-te do mal e oferecer-te a vida eterna e a paz a ti e aos teus, e para fazer, pela cidade, quanto for necessário para defende-la dos inimigos.” (Gharib, p. 43)



Ananias levou este pano para o rei. O rei melhorou, mas só ficou curado quando Tadeu, um dos setenta discípulos de Jesus enviados por Tomé, foi a Edessa e o batizou. O rei adotou o Cristianismo e o pano miraculoso foi colado a uma tábua e colocado nos portões da cidade, com inscrição: “Cristo Deus, quem em ti espera não se perderá”. O ícone do Monastério de Santa Catarina do Sinai mostra o Rei Abgar com o santo mandylion, e Tadeu à esquerda. Abaixo, estão alguns santos e monges.

Figura 1 - Rei Abgar
Figura 2 - Santo Keramion
Figura 3 - Sagrada face de Jaroslav
Figura 4 - Sagrada face de Gênova

Rei Abgar Santo Keramion







Sagrada face de Jaroslav


Sagrada Face de Gênova





No ano 57 o neto de Abgar, Mánu VI, começou um retorno ao paganismo, e queria destruir a relíquia. O bispo da cidade, advertido em sonho do desejo do rei, mandou emparedá-la às escondidas num nicho, ocultando-a com uma cerâmica. Com o tempo, a sagrada imagem foi esquecida.

No ano de 544, o rei persa Cosróes, após ter saqueado todas as cidades da Ásia, cercou Edessa, reduzindo-a a um estado de total pobreza. O então bispo Evlávio, depois de uma revelação, mandou quebrar a parede e encontrou o mandylion. Diz a tradição que a lâmpada ainda estava acesa, e que tinha contribuído para imprimir a imagem do Cristo sobre o Keramion (cerâmica) que a ocultava. A imagem foi retirada e organizou-se uma grande procissão sobre as muralhas da cidade. Todo o arsenal militar dos persas pegou fogo e eles tiveram que levantar o cerco e fugir, sofrendo grave derrota.

O ícone do santo Keramion muitas vezes confundido com o do Santo Mandylion, apresenta algumas características que o diferem deste último. Esse ícone é do século XII, de Novgorod, e encontra-se atualmente na Galeria Tretjakov de Moscou. Comparemos com outro ícone da primeira metade do século XIII, o da Sagrada Face de Jaroslav. A primeira diferença no Santo Keramion é a ausência da toalha atrás do rosto, tendo apenas um fundo de cor tijolo ou cerâmica. A segunda é o direcionamento dos olhos e dos cabelos no alto da fonte, para esquerda de quem olha, ao contrário do mandylion. Assim, a imagem do Keramion é o “espelho” da imagem do mandylion, como conta a tradição.

Durante o período iconoclasta, o mandylion era um dos principais argumentos dos defensores das imagens, pois argumentavam que além do fato do Cristo ter se encarnado, Ele próprio nos deixara sua imagem no mandylion de Edessa. Em 944 o imperador de Bizâncio recebeu o mandylion do Emir de Edessa, e colocou-o na Igreja de Santa Sofia. Em 1204, com a tomada de Constantinopla pelos cruzados, o mandylion desapareceu.

Os genoveses dizem que o mandylion seria a “Sagrada Face”, um precioso ícone com revestimento de prata, conservado na igreja de São Bartolomeu dos Armênios, onde é venerado. Entretanto, essa imagem é um ícone bizantino, pintado sobre madeira, provavelmente no período paleólogo, entre os séculos XIII e XIV.





Santo Sudário(Figura 5)



Recentemente, alguns estudos tentaram associar o Santo Sudário de Turim ao mandylion de Edessa. O Santo Sudário está em Turim desde 1578. É uma fina peça de linho de 3 pés e 7 polegadas de largura e 14 pés e três polegadas de comprimento que leva a imagem detalhada da frente e das costas de um homem que foi crucificado de maneira idêntica a Jesus de Nazaré conforme descrevem as Escrituras.



Segundo esses estudiosos, o Sudário estaria dobrado em Edessa, de modo que mostrava apenas o rosto de Jesus. Quando desapareceu de Constantinopla, teria sido todo desenrolado, deixando ver todo o corpo. Entretanto, o Santo Sudário é um retrato funerário, o que vai contra toda a tradição do mandylion, seja literária – pela história do rei Abgar, ou iconográfica – uma vez que sempre foi representado apenas como o rosto de Jesus.

O Emanuel


O tipo iconográfico conhecido como o Emanuel apresenta o Cristo ainda jovem, sem barba. O nome, que vem do hebraico “Deus conosco”, está relacionado à passagem de Isaías 7:14: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.”

A imagem do menino Jesus já está presente nas catacumbas, onde normalmente é representado como um menino comum, ao natural, segundo a arte da época, sem nenhum atributo especial que distinguisse sua divindade. No século IV e V discutia-se se Jesus havia nascido homem e somente mais tarde, por ocasião do batismo, tinha-se tornado Deus, ou se já havia nascido Deus, consubstancial ao Pai. Na primeira opção, Maria seria apenas Christotokos, ou seja, mãe de Cristo. No concílio de Éfeso, em 431, a segunda hipótese venceu e definiu que Maria era Theotokos, isto é, Mãe de Deus.





Isso se refletiu na iconografia do menino Jesus fazendo com que ele fosse representado com os traços não de um bebê, mas de um adolescente quase adulto, e usando as mesmas roupas que um adulto. O manto, geralmente amplo, deixa descoberto o pescoço, cobre os ombros e envolve o corpo inteiro em pregas amplas, deixando aparecer os pés com sandálias.




(Figura 6)
O Emanuel com a Virgem





Em geral a cor do manto é de um tom que lembra a argila, simbolizando a matéria da qual o homem foi feito. Sobre esse “barro”, o divino se encarnou, o que é representado pelos raios dourados, ou “assist” dourados. A camisa geralmente é branca, cor da unidade e da glória de Deus. Outras vezes ele é representado com a roupa do Pantocrator. Em geral ele abençoa com a mão direita, e na esquerda segura um rolo ou um livro.



(Figura 7)
Anunciação de Ustyug



O Emanuel também aparece em todos os ícones festivos onde Jesus aparece como criança: do Natal, na apresentação no Templo e em alguns ícones da anunciação, como de Ustyug, do século XII. Nesse, o menino é representado bem visível no peito de Maria, entre as dobras de suas vestes. Note-se que a Trindade está representada, pois o Pai está no alto, entre serafins, e o Espírito Santo desce em forma de raio do Pai até o menino Jesus no peito da Virgem.





Na festa da apresentação ao Templo ou do Encontro, assim como na festa de meio pentecostes, com Jesus entre os doutores do templo, Jesus é representado segundo a tipologia do Emanuel.



(Figura 8)

Festa do Encontro


(Figura 9)
Meio pentecostes





Há também ícones do Emanuel representado a meio busto sozinho, que em geral são onomásticos, isto é, pintados para as pessoas de nome Emanuel.

Paternitas
(Figura 12)


Na chamada Trindade do Novo Testamento ou “Paternitas”, onde o Pai é representado como o Ancião dos Tempos, o Filho é mostrado como o Emanuel em seu colo, e o Espírito Santo como uma pomba. Observemos, entretanto, que este ícone, embora bastante difundido, não é considerado canônico por muitos iconógrafos, uma vez que o Espírito Santo só deveria ser representado como pomba na cena do Batismo; e o Pai só poderia ser representado como o Filho, que foi feito à sua semelhança, se encarnou e assim permitiu que Deus pudesse ser representado.

(figura 12)
Pantocrator ou o Senhor Todo Poderoso


O tipo iconográfico do “Pantocrator” é o mais difundido na iconografia oriental. Ele representa o Cristo adulto, com cerca de trinta anos de idade. “Pantocrator” é geralmente traduzido como “Onipotente”, mas alguns autores acreditam que “Oniregente” ou “Aquele que tudo rege” seria uma tradução mais apropriada.
Jesus se apresenta como o criador do mundo, o juiz dos destinos, o portador da verdade, aquele para quem a fé e a esperança da humanidade estão direcionadas. Assim, a imagem de Cristo como Pantocrator tem um importante lugar na igreja, não apenas nos ícones portáteis, mas também nas paredes e cúpulas, sendo frequentemente encontrada como afresco ou mosaico no domo central das igrejas ortodoxas.


(Figura 11)
O Pantocrator



A característica desse tipo iconográfico é a imagem de Cristo com a mão direita abençoando “à maneira grega”, e a mão esquerda segurando um livro ou um pergaminho, que tanto podem estar abertos quanto fechados. No nimbo está inscrita uma cruz. A bênção “à maneira grega”, na qual os dedos aparecem em posições bem precisas, é descrita no manual de Dionísio de Furná:





“Quando fizeres uma mão que abençoa, não uma os três dedos juntos, mas une o polegar com o anular apenas; o dedo chamado indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o indicador forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o nome XC; de fato, a obliquidade do mínimo, estando ao lado do anular forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem forma curva, indica por isso mesmo o C; por meio dos dedos, portanto, se forma o nome XC e, por esse motivo, pela divina providência do Criador de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade suficiente para formar este nome.” (Gharib, p. 102)



O rosto, para a tradição oriental, é o do mandylion. Os traços podem assim ser descritos: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos, voltados para o expectador, nariz fino e alongado; a barba bastante longa, terminando em ponta arredondada; bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula, sobre o alto da cabeça, vão para trás na altura das orelhas e descem sobre os ombros, sendo que de um dos lados descem três cachos, que alguns autores dizem representar a Trindade.

Três peças de roupa compõem o vestuário, as mesmas usadas na Palestina no tempo de Jesus: uma túnica (chiton) diretamente no corpo, um manto (himation), uma faixa que desce do ombro (clavus) e as sandálias presas ao tornozelo por tiras de couro.

A figura é em geral representada a meio busto, mas também é comum encontrar imagens de corpo inteiro. Algumas vezes esse tipo iconográfico recebe nomes adicionais, além do nome de Cristo, IC XC. O mais comum é o que nomeia o tipo iconográfico, isto é, O Pantocrator (Aquele que tudo rege). A riqueza dos nomes que aparecem em ícones que chegaram até nós é enorme. Citamos alguns, apenas para ilustrar: O Eleimon (o Misericordioso); O Zoodotes (o Vivificante, ou o que dá a vida); O Fotodotes (O que ilumina ou o que dá a luz); O Sotir ton Kosmou (O Salvador do Mundo); O Philanthropos ( o Amigo dos Homens); E Chora ton Zonton ( A Terra dos Viventes); O Psychosostes ( O Salvador das almas) etc.

O livro que aparece na mão esquerda do Cristo é o dos Evangelhos. Muitos são os textos que aparecem no livro aberto, que pode ser de escolha do iconógrafo ou daquele que encomendou o ícone. No manual de Dionísio de Furna, há várias sugestões:

Para o Pantocrator: “Eu sou a luz do mundo...” (Jo 8:12) ou “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” Jo 11:25); para o “Salvador do Mundo”: “Aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração e encontrarei descanso para vossas almas” (Mt 11:29); para o “Zoodotes”: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre.” (Jo 6:51); entre os santos: “Vinde a mim todos que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso” (Mt 11:28); quando colocado sobre uma porta: “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim será salvo” (Jo 10:9); para o “Mensageiro do Grande Decreto”: “sai de Deus e dele venho; não venho por mim mesmo, mas foi ele que me enviou” (Jo 8:42); para o “Sacerdote”: “Eu sou o bom pastor...” (Jo 10:11).



O Cristo no Trono ou Cristo na Glória pode ser considerado como um subtipo do Pantocrator.
Nesse tipo de ícones Jesus é representado como o Juiz e Rei dos Reis. Assim como na imagem do Pantocrator, aqui também ele é representado abençoando e com um livro, mas o Cristo está sempre sentado num trono. Ele está rodeado por toda a glória e poder de criador do mundo visível e invisível. Em geral nos cantos aparecem os símbolos dos quatro evangelistas - as faces de uma águia, um homem, um leão e um touro – que pregam as boas novas a todas as partes do mundo. De um ponto de vista teológico, esse ícone está associado ao juízo final, sendo por isso mesmo o ícone central em muitas iconostases.



(Figura 13)
Cristo na Glória

Elementos Básicos da Iconografia do Salvador
(Figura 10)





1 Halo com a cruz: Símbolo da santidade, da radiação da luz de Deus. O halo tem uma cruz inscrita, e nos braços da cruz as letras gregas оωн, referindo-se às palavras “Aquele que é”, (Apocalipse 1:8: “Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso”) e ao Nome divino dado a Moisés pela sarça ardente (Êxodo 3:14: “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros”)

2 Himation: O Manto externo do Cristo, na forma de um pano retangular que passa sobre o ombro esquerdo e desce pelo corpo. Para o Salvador, o himation é representado predominantemente na cor azul escuro, simbolizando a natureza divina do Cristo.

3 Chiton: Túnica interna longa, usualmente descendo até os calcanhares e na cor vermelha, simbolizando a natureza humana de Cristo. O dourado nas vestes simboliza a glória de Deus.

4 Clavus: Uma faixa vertical que desce do ombro direito do Cristo, usualmente com detalhes em ouro. Em Bizâncio era símbolo da aristocracia.

5 Livro: Pode ser representado na forma de um pergaminho ou de um codex (folhas unidas dentro de uma capa) o livro ou pergaminho aberto sempre contém algum versículo da Bíblia.

6 Inscrição IC XC: É a abreviatura do nome de Jesus em Grego, e sempre deve ser escrita dessa maneira, ainda que outras inscrições no ícone sejam em outras línguas.

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